Poucas
frases marcaram tanto a minha infância quanto "a pessoa é para o que
nasce". Se a memória não me traiu, eu só ouvi isso uma vez. Era o nome de
uma peça de teatro (ou, talvez, um documentário) anunciada na rádio e foi a
sonoridade entranha que martelou pra sempre, até grudar de vez na minha cabeça.
A sonoridade e o estranhamento porque, à época, me lembro de não ter entendido,
de achar que faltava alguma palavra pra ter sentido...
Embora
eu nunca mais tenha ouvido, não me canso de repetir. A pessoa é para o que
nasce, gente. E foi isso o que eu disse, agora há pouco, a um amigo enquanto discutíamos
sobre pequenos rachas dentro das panelinhas. Hoje, com tantas redes sociais e
tanta interação entre as pessoas, parece que ficou mais fácil brigar, mais
fácil se desentender. A maior parte da comunicação se dá por escrito, e a
escrita é a mãe do mal entendido. Nós passamos o dia inteiro escrevendo um para
o outro, individualmente ou em grupos, em que o entendimento completo varia
muito de acordo com os comentários dos outros.
A
pessoa é para o que nasce, eu dizia, e entender isso facilita imensamente a
convivência. Pense no seu grupo de amigos. Provavelmente, há alguém com quem
você se sente mais a vontade pra desabafar. Esse alguém te ouve com atenção, dá
bons conselhos e sabe a diferença entre o que você quer e o que você precisa
ouvir. Esse é um bom amigo para desabafar.
Além
dele, há, com certeza, um amigo bastante animado. Ele é a alegria de todas as
festas e é impossível não notar quando ele chega ou sai. Ele agita o lugar,
traz o barulho, a energia. Perto dele, tudo fica mais alegre e divertido. É o
seu amigo pra sair. Um dos amigos (ou alguns deles) tem gostos muito parecidos
com o seu. Vocês assistiram aos mesmos filmes, frequentam os mesmos lugares e
ouvem as mesmas músicas. Vocês poderiam passar dias conversando sobre as coisas
de que gostam - e, provavelmente, vocês falam sobre isso sempre que se
encontram. É o seu melhor amigo pra conversar.
Temos
amigos pra beber, amigos pra sair pra dançar, amigos que falam pouco e baixo e
são ideais pra ver filme e dormir mais cedo... E, se você souber separar quem
nasceu pra quê, estará sempre muito bem acompanhado. Não dá pra exigir, de todo
mundo que nos cerca, bons conselhos e atenção. Menos ainda, animação e alegria.
Nem todo amigo acorda cedo pra te ajudar na mudança, mas o que acorda não
necessariamente quer ouvir seu choro ou segurar a sua testa no vaso sanitário.
A
pessoa é para o que nasce, gente. Simples assim. Vamos parar de discutir
política com amigo de dançar até o chão...
O
que nos cabe é aprender a valorizar o que cada amigo tem e parar de cobrar e
esperar pelo que ele não pode oferecer. Quem ainda não aprendeu segue caçando um
pacote completo que não existe, numa busca solitária e cheia de desentendimentos.
Nenhum amigo é perfeito, mas todo mundo é bom em alguma coisa.
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